SIGNIFICADOS DO PEREGRINAR

A condição do homem e da mulher é a de itinerância ou estar em viagem, desde o nascimento à morte. Gabriel Marcel definiu o ser humano a partir da experiência da existência de “ser viator” ou de estar a caminho. Cada existência humana é a história pessoal de uma bela ou trágica aventura, em geral, fruto das próprias escolhas e decisões.

Se não houver influência externa adversa, será o exercício pessoal da liberdade, condicionada e estimulada pela cultura, a aprendizagem, a linguagem com as transformações históricas que possibilitam percorrer o caminho aberto ao novo, ao inesperado, ao inusitado.

A teologia da peregrinação reflete a condição humana do viajante bíblico, em várias circunstâncias das narrativas do Antigo Testamento com seus personagens e situações, desde Abraão que sai da sua terra, os israelitas que passam pela escravidão no Egito e o êxodo da libertação conduzidos por Moisés, o exílio e o cativeiro na Babilônia até o retorno do “resto de Israel” livre para reconstruir o templo e as antigas tradições. É a marcha do povo de Deus!

A Carta aos Hebreus dá um sentido espiritual à peregrinação dos Patriarcas: Na fé, todos estes morreram, sem terem obtido a realização da promessa, depois de tê-la visto e saudado de longe, e depois de se reconhecerem estrangeiros e peregrinos nesta terra. Pois aqueles que assim falam demonstram claramente que estão à procura de uma pátria. E se lembrassem a que deixaram, teriam tempo de voltar para lá. Eles aspiram, com efeito, a uma pátria melhor, isto é, a uma pátria celestial. É por isso que Deus não se envergonha de ser chamado o seu Deus. Pois, de fato, preparou-lhes uma cidade (11,13-16).

São Pedro espiritualiza a peregrinação dos fiéis de Cristo ao afirmar que são “peregrinos e forasteiros neste mundo” (1Pd 2,11). Por isso, a teologia da peregrinação cristã tende a acentuar o simbolismo de nosso itinerário definitivo para Deus, porém, não exclui o Reino de Deus em construção na história. Trata-se da vida humana com todos os seus aspectos cuja trajetória não termina com a morte, mas se dirige à Jerusalém celeste ou à Páscoa definitiva.

O Vaticano II afirmou que Maria peregrinava na fé, temática ainda a ser explorada. São João Paulo II escreveu ser a Igreja Católica o diário vivo de uma peregrinação sem cessar. Ele se referia aos santuários cuja meta de chegada alimenta a devoção popular. Aludia também ao itinerário pessoal de ascese, arrependimento, vigilância de cada peregrino (Cf. Incarnationis Mysterium 7). De fato, desde cedo, os cristãos peregrinavam à Terra Santa   ao túmulo dos mártires e apóstolos onde edificaram santuários. Há sempre novos lugares de peregrinação no decorrer da história da Igreja que visibilizam sua vitalidade.

A peregrinação a lugares santos também se fundamenta nas Escrituras. Os israelitas peregrinavam a Betel (Jr 20,18), a Silo (1Sam 1,1-3), a Jerusalém. Também Jesus com Maria e José peregrinaram à cidade santa todos os anos (Lc 2,41). Aliás, os evangelistas confirmam as vezes que Jesus subiu ao Templo de Jerusalém para participar das celebrações religiosas.

Nossa Senhora em suas aparições, em geral, pede a construção de uma igreja que se torna lugar de romaria. Em Fátima, pediu uma capela. Depois, o ambiente ampliado para acolher gente de várias partes, tornou-se o “altar do mundo”. No Rio de Janeiro, devido à pandemia,  momentaneamente é feita a “ peregrinação pelo coração” através dos meios virtuais. 

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