A reparação ou desagravo é uma forma de participação na obra redentora do Cristo. No aspecto negativo diz respeito à expiação e ao perdão dos pecados. No aspecto positivo é a restauração humana e a das outras criaturas em Cristo. A conformação a Cristo Crucificado e Ressuscitado sempre esteve presente na Igreja. É estimulada pelos textos de Paulo, sobretudo, o testemunho: “completo, na minha carne, o que falta das tribulações de Cristo pelo seu Corpo que é a Igreja” (Col 1,24). Significa associar-se e solidarizar-se aos membros atribulados.
Através da experiência dos místicos e da prática dos ascetas, a compaixão e a consolação foram introduzidas na Espiritualidade, alimentada pela aplicação dos profetas Isaías e Jeremias. Seus cânticos de consolação foram aplicados a Jesus, especialmente na liturgia quaresmal e, na sexta-feira santa, em forma de queixa: “Que mais poderia ter feito por ti e não o fiz?” São apelos de associação, conformação, amor afetivo e solidário.
A reparação ligada ao amor e aos sofrimentos de Cristo se explicita a partir da Idade Média. São Francisco de Assis dizia: “o amor não é amado”. São Boaventura, seu filho espiritual, punha na boca de Jesus, a queixa: “Busquei alguém que me consolasse e não achei”. Nos escritos de Santa Gertrudes, ao contrário, é Jesus quem supre ou repara nossas necessidades.
O impacto das aparições do Coração de Jesus a Santa Margarida Maria (séc. XVII) ensejou, na Igreja, a comunhão reparadora às primeira sextas-feiras. Do seu convento para o povo até a aprovação de uma festa reparadora ao Sagrado Coração foi um longo processo, motivado pelo pedido suplicante de Jesus: “Dai-me este consolo para suprir as ingratidões dos pecadores, na medida que sejas capaz”. De novo, associação, conformação, amor afetivo e solidário.
A Espiritualidade Reparadora desenvolveu-se, a partir do sec. XIX motivada pelo culto ao Coração de Jesus inclusive expressava-se pela arte de esculpir ou pintar o Coração de Jesus, para ser entronizado nos altares e nos lares. No hinário foram introduzidas as temáticas de desagravo. O Papa Pio XI reconheceu que “o espírito de expiação e de reparação ocupou sempre o primeiro e mais importante posto no culto ao Coração de Jesus” (In: Miserentissimus Redemptor). Igualmente, conformação, amor afetivo e solidário.
Em Fátima, a Espiritualidade da Reparação é inaugurada pelo Anjo: “De tudo que puderdes, oferecei um sacrifício em ato de reparação com que Ele (Deus) é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores”. Na oração à Trindade, o Anjo ensina a oferecer a celebração eucarística “em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo (Jesus) é ofendido”.
A aparição de Nossa Senhora de Fátima, em 13 de junho de 1917, segue o mesmo esquema da Espiritualidade Reparadora: “Jesus quer estabelecer no mundo a devoção a meu Imaculado Coração”. Ao final, Lúcia interpreta: “à frente da palma da mão direita de Nossa Senhora, estava um coração cercado de espinhos que parecia estarem-lhe cravados. Compreendemos que era o Imaculado Coração de Maria, ultrajado pelos pecados da humanidade, que queria reparação”. Trata-se de flagrante inovação.
No dia 13 de julho, a Senhora ensina a oração: “Ó Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria”. Pede a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Também em Fátima a Espiritualidade da Reparação é afetiva, amor-solidário por Jesus, Maria, a Igreja e o Mundo.