A PROPÓSITO DO ROSÁRIO

A contagem das orações através de contas interligadas numa espécie de corrente é costume muito antigo, presente não só no catolicismo com a chamada “coroa do rosário”, mas também entre os hindus e os mulçumanos.

O costume de repetir ave-marias intercaladas com o pai-nosso, glória ao Pai e meditação dos mistérios da vida de Jesus e de Maria remonta ao século XII. Por volta de 1328, atribuiu-se ao rosário a salvação do ocidente cristão, ameaçado pela heresia dos albigenses, as invasões dos mulçumanos e a ignorância dos mistérios e das virtudes cristãs. Nossa Senhora teria entregue a São Domingos uma arma espiritual com a qual os Frades Pregadores uniram a cristandade por um método simples e acessível de transmitir a fé.


É muito conhecida a imagem de Nossa Senhora, sentada, entregando o rosário a São Domingos de Gusmão e a Santa Catarina de Sena, ajoelhados. A imagem traduz a ligação do rosário com Maria e de ambos com a Ordem dos Pregadores, conhecidos como Dominicanos (as) devido ao nome do santo Fundador.

A celebração do Santíssimo Rosário de Nossa Senhora deriva da festa de Santa Maria da Vitória, instituída por um papa dominicano, São Pio V, depois da luta vencida pelos cristãos contra a frota turca, em Lepanto, no dia 7 de outubro de 1571. Na ladainha, ela seria invocada como Rainha do Santíssimo Rosário. Desde então, os papas recorriam ao rosário recitado em favor da concórdia em momentos em que a paz estaria ameaçada. Em Fátima, Maria se identifica como sendo a Senhora do Rosário, na última aparição, em 13 de outubro de 1917.


São João Paulo II, no clima pós-conciliar, transformou o modo de olhar. Realçou mais a dimensão cristocêntrica do rosário. Ensinou-nos a contemplar Jesus através do olhar de Maria. Acrescentou os mistérios luminosos da vida pública do Senhor para que, de fato, o rosário se tornasse o “Compêndio do Evangelho” e fosse meditação completa da vida de Jesus.


No Brasil, o rosário adquiriu uma dimensão social histórica. As irmandades e as igrejas com o título de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito sempre foram o lugar de encontro e de aceitação dos negros, escravos ou alforriados, espaço de convivência dos afrodescendentes com a religião católica. Certamente porque o rosário estava ao alcance de todos, especialmente, dos simples e analfabetos. Não tendo acesso pessoal à linguagem latina da missa, à leitura da Bíblia e ao livro de orações, tudo aprendiam de cor, por repetição.


Em Fátima, Nossa Senhora pediu às crianças que rezassem o terço pela paz em nítida sintonia com a antiga prática devocional da Igreja recomendada pelos papas. Através dos pastorinhos, pobres e simples, somos motivados a esta prática de oração vocal e meditativa acessível também a nós. Convém ensinar às crianças e aos jovens a meditação do rosário como outrora nos ensinaram. As novas gerações precisam receber o rosário com a bíblia e o catecismo para que o substrato cultural católico da nossa herança permaneça vivo e atraente.

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