Há um popular ditado que diz que “a carne é fraca”. Mesmo quando assumimos o propósito de sermos bons, corretos e justos, há tantas distrações e tantas tentações à nossa volta que acabamos por falhar. Deixamos de acordar cedo para rezar porque ficamos com sono, deixamos de jejuar porque era forte demais o desejo pela guloseima, deixamos de ajudar o próximo porque estamos sem tempo ou dinheiro. A culpa, dizemos, é da carne, que é fraca.
Essa sensação de fraqueza espiritual, que por vezes se confunde com o sentimento de covardia, também foi experimentada em algum momento até mesmo pelos santos. Homens e mulheres chamados por Deus para serem exemplos de virtude, se deixaram abater em certas horas. Os próprios pastorinhos, mesmo crianças e tão ingênuos, passaram por isso. Conta Lúcia em suas memórias:
“[…] aproximou-se o Carnaval de 1918. As raparigas e rapazes juntaram-se, ainda esse ano, para a costumada cozinhada e brincadeira desses dias. Cada um levava de sua casa uma coisa: uns, azeite; outros, farinha; outros, carne; etc. e junto tudo em uma casa, para isso destinada, as raparigas aí cozinhavam um faustoso banquete. E nesses dias era comer e bailar até que horas da noite, em especial no último dia.
As crianças de 14 anos para baixo tinham a sua festa noutra casa, à parte. Vieram, pois, várias a convidar-me para com elas organizar a festa. Recusei, a princípio; mas, levada por uma cobarde condescendência, cedi às instâncias de várias […] Ao chegar junto da Jacinta e do Francisco, disse-lhes o que se tinha passado.
– E tu voltas a essas cozinhadas e brincadeiras? – me perguntou, com seriedade, o Francisco. – Já te esqueceste que prometemos nunca mais lá voltar?!
– Eu não queria ir; mas como bem vês que me não deixam, a pedir-me que vá; e não sei como fazer. Na verdade, as instâncias eram muitas, e as amigas que, para brincar comigo, se juntavam, não eram menos. […] Como, assim de repente, desenganar tudo isto, que parecia não saber divertir-se sem mim, e fazer-lhes compreender que era preciso acabar para sempre com tais reuniões?!
Deus inspirou-o ao Francisco:
– Sabes como vais a fazer? Toda a gente sabe que Nossa Senhora te apareceu; por isso, dizes que Lhe prometeste não tornar mais a bailar e que, por isso, não vais. Depois, nesses dias, escapamo-nos para a Lapa do Cabeço; lá ninguém nos encontra.
Aceitei a proposta; e dada a minha decisão, ninguém pensou mais em organizar tal assembleia. Era Deus a abençoar. E essas amigas, que antes me procuravam para se divertir, agora seguiam-me e vinham procurar-me a casa, aos Domingos pela tarde, para ir com elas rezar o terço à Cova da Iria.” (Memórias da Irmã Lúcia, págs 154 e 155).
O jovem Francisco, tão novo mas tão sábio, deu à prima uma ideia que nos serve também: é preciso perseverar. Isso requer força e determinação. Significa cair e levantar e seguir adiante muitas vezes se for preciso. Pressupõe paciência e serenidade. Mas não é tão difícil quanto parece à primeira vista. Afinal, perseverar não é apenas persistir. É ser coerente com seu projeto de vida e de fé. É levantar diariamente e insistir nas tarefas que nos aproximam de Deus. Como completa o ditado: “a carne é fraca, mas o espírito é forte”.
E, quando incluímos Deus em nossas prioridades, Ele cuida do resto. Como na história contada pela Lúcia: “essas amigas, que antes me procuravam para se divertir, agora seguiam-me e vinham procurar-me a casa, aos Domingos pela tarde, para ir com elas rezar o terço à Cova da Iria”.
E você, está disposto a perseverar no projeto de Deus para você?