Pelo dicionário, a palavra penitência tem dois significados principais: “arrependimento ou remorso por um erro que se cometeu” e “pena imposta para expiação desse erro”. Sempre pensamos nela muito mais como um ato para reparação dos pecados do que relacionada ao desejo de reconciliação com o Projeto de Deus.
Quando vemos por essa segunda perspectiva, a penitência ganha uma outra cara, pois torna-se uma opção de vida. Diz o Catecismo da Igreja Católica: “A penitência interior é uma reorientação radical de toda a vida, um regresso, uma conversão a Deus de todo o nosso coração, uma rotura com o pecado, uma aversão ao mal, com repugnância pelas más ações que cometemos. Ao mesmo tempo, implica o desejo e o propósito de mudar de vida, com a esperança da misericórdia divina e a confiança na ajuda da sua graça (§ 1431).
Se pensarmos desta forma, a penitência não precisa ser algo extremado, excessivamente rigoroso ou difícil, pois tem muito mais a ver com a intenção do que com a forma. Voltando ao Catecismo, lá está dito: “A penitência interior do cristão pode ter expressões muito variadas. A Escritura e os Padres insistem sobretudo em três formas: o jejum, a oração e a esmola, que exprimem a conversão, em relação a si mesmo, a Deus e aos outros” (§ 1434). E complementa: “o apelo de Jesus à conversão e à penitência não visa primariamente as obras exteriores, «o saco e a cinza», os jejuns e as mortificações, mas a conversão do coração, a penitência interior: Sem ela, as obras de penitência são estéreis e enganadoras; pelo contrário, a conversão interior impele à expressão dessa atitude com sinais visíveis, gestos e obras de penitência” (§ 1430).
Ou seja, somos chamados por Deus, neste processo de conversão e penitência, a transformar esses desejos em obras concretas, dentro do nosso dia a dia. Temos a chance, em cada uma das nossas tarefas cotidianas, de aderir ao Seu Reino e viver de forma humilde aquilo que nos é apresentado.
O jejum, por exemplo, pode ser vivido através da privação de alimentos, mas também ao deixarmos de fazer algo de que gostamos muito ou até ao evitarmos conscientemente um comportamento que para nós é natural, como brigar com os irmãos ou com o marido. A oração pode ganhar mais espaço em sua vida. Em vez de rezar apenas na missa ou nos horários em que já estava habituado, você pode fazer pequenas preces ao longo do dia, entremeadas com suas tarefas de casa ou do trabalho. A esmola não precisa ser apenas monetária. Pense em doar seu tempo, sua dedicação, sua paciência, seu bom humor.
Para tudo isso, podemos nos inspirar no exemplo de Cristo, que em todo momento quis se mostrar menor e se colocou a serviço dos outros. “Tomar a sua cruz todos os dias e seguir Jesus é o caminho mais seguro da penitência” (CIC § 1435).