As últimas realidades não dizem respeito apenas aos ‘Novíssimos’: morte, juízo, inferno, paraíso. Isto é o “ainda não” escatológico. São também as realidades definitivas incluídas na expressão “uma vez por todas”. Por exemplo: “Somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas” (Hb 10,10). O definitivo é o que não se repete. Isto é o “já” escatológico.
Considerando o mundo infantil dos Pastorinhos, pobres e iletrados, Maria tratou de alguns temas escatológicos, difíceis e impactantes, com a sabedoria de Mãe, Mestra e Pedagoga da fé. Porém, a catequese visava bem mais aos adultos. A Ir. Ângela de Fátima Coelho avaliou que a abordagem estava “em linha com a que era usada na época na catequese e nas homilias sobre o tema; de tal maneira que os Pastorinhos compreenderam plenamente…” (In: Dentro da Luz, Fátima, 2011, p. 110).
Maria fala muito de ir para o céu. Ela mesma vem e volta para o céu de luz. O ‘céu’ é metáfora para designar a condição daqueles que depois da morte estão junto de Deus. Ensina o Catecismo da Igreja Católica: “Os que morrem na graça e na amizade de Deus, e que estão totalmente purificados, vivem para sempre com Cristo. São para sempre semelhantes a Deus, porque o veem “tal como é” (1Jo 3,2), face a face” (n. 1023). Por isso, a imagem do céu se refere à visão beatífica, isto é, ao ato de ver a Deus e de contemplar sua face. Explica o mesmo Catecismo: “Em razão de sua transcendência, Deus só pode ser visto tal como é, quando Ele mesmo abrir o seu mistério à contemplação direta do homem e o capacitar para tanto” (n. 1028). Realizar-se-á o que diz o salmista: “Na Tua luz vemos a luz” (Sl 36).
O céu é a comunhão de vida e amor com Deus Pai, Filho, Espírito Santo, a Virgem Maria, os anjos e bem-aventurados. Portanto, “o céu é o fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o estado de felicidade suprema e definitiva” (n. 1024).
O ‘purgatório’ também é frequente na Mensagem de Fátima. Significa purificação. Sua compreensão histórica se desenvolve a partir da prática da oração pelos fiéis defuntos, estimulada por Judas Macabeus que mandou oferecer um sacrifício pelos mortos, a fim de que fossem absolvidos dos seus pecados (2Mc 12,46). Nas inscrições dos sepulcros dos cristãos (séc. II e III) encontravam-se pedidos de oração: “façam súplicas para que obtenham a paz, o refrigério, a vida em Deus ou em Cristo. Na lápide de Abércio de Hierópolis estava escrito: “Quem seja amigo de fé, reze uma oração por Abércio”. Santo Agostinho ofereceu por sua mãe, Santa Mônica (séc. IV), preces e lágrimas, cumprindo-lhe o desejo. “Que ela esteja em paz com o marido já que anterior ou posteriormente à sua união com ele, com ninguém mais se desposou. Serviu-o com paciência, alcançando méritos para também o ganhar para vós” (Confissões, Livro IX, 13).
Alguns textos bíblicos indicam um estado de purificação. Ao considerar o pecado contra o Espírito Santo que não tem perdão nem no presente nem no século futuro (Mt 12,31), a Igreja percebeu que certas faltas podem ser perdoadas após a morte. São Paulo ensina: “Se a obra construída sobre o fundamento subsistir, o operário receberá uma recompensa. Aquele, porém, cuja obra for queimada perderá a recompensa. Ele mesmo, entretanto, será salvo, mas como que através do fogo” (2Cor 3,13-14). Há ainda o ensinamento vinculante dos Papas e dos Concílios.