Segundo João, no dia mais solene da festa das Tendas, quando se pedia chuva e se liam textos
bíblicos sobre as águas regeneradoras, Jesus se põe de pé e diz em alta voz, até com certa
solenidade: “Se alguém tem sede, que ele venha a mim e beba. Aquele que crê em mim, de seu
seio jorrarão rios de água viva” (Jo 7,37-38).
O pequeno trecho apresenta Jesus como sendo a Fonte enquanto o Espírito Santo é a Água
Viva. João ao conjugar Jesus, Espírito, Fé na vida do crente possibilita que saibamos que do
discípulo, à semelhança do Mestre, também brotam rios de Água Viva. O narrador garante-
nos tal interpretação quando diz: “Ele falava do Espírito que deviam receber aqueles que
tinham crido nele” (v. 39). Somos, pois, intermediários e colaboradores e comunicadores do
Espírito Santo de Deus para levar adiante a obra de Cristo no mundo e na história.
A relação de comunhão é a mediação do único Mediador, o Cristo, junto do Pai, de todos nós
que somos inseridos no Espírito, na dimensão tríplice: por, com, em. Eis a realidade da Igreja
no seu mistério de união espiritual e de cada um de seus membros que igualmente age nela,
com ela e por ela a partir do mistério de unidade e de comunhão trinitária.
João aborda a unidade da Igreja como comunhão com os apóstolos e destes com Cristo.
Convém, portanto, reescrever: “O que vimos e ouvimos, nós vos anunciamos para que estejais
também em comunhão conosco e a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho Jesus
Cristo”. (1Jo 1, 3). Tal comunhão é fruto da graça, ou seja, do Espírito Santo.
Sendo Maria a Jesus ligada e ao Espírito por laços especiais, consequentemente, é o membro
mais proeminente da Igreja enquanto Corpo Místico de Cristo. Dela se pode dizer que, de
modo excelente, do seu Coração jorram rios de Água Viva. Aliás, o diácono Santo Efrem é
quem afirmou que aquele que se aproxima de Maria se aproxima do Espírito Santo.
Entenda-se por que a Mensagem de Fátima nos estimula pela vontade de Deus a nos
aproximarmos de Maria, a partir do seu Imaculado Coração, inserido na Trindade e na Igreja.
Quem nos explica é o Cardeal Ratzinger: “o termo ‘coração’, na linguagem da Bíblia,
significa o centro da existência humana, uma confluência da razão, vontade, temperamento e
sensibilidade, onde a pessoa encontra a sua unidade e orientação interior. O ‘coração
imaculado’ é…um coração que a partir de Deus chegou a uma perfeita unidade interior e,
consequentemente, ‘vê a Deus’ (cf. Mt 5, 8). Portanto, ‘devoção’ ao Imaculado Coração de
Maria é aproximar-se desta atitude do coração, na qual o fiat -‘seja feita a vontade de Deus’-
se torna o centro conformador de toda a existência”. (Comentário Teológico)
Quanto ao triunfo do Imaculado Coração, Ratzinger afirma: “Significa que este Coração
aberto a Deus, purificado pela contemplação de Deus, é mais forte que as pistolas ou outras
armas de qualquer espécie. O fiat de Maria, a palavra do seu Coração, mudou a história do
mundo, porque introduziu neste mundo o Salvador: graças àquele ‘Sim’, Deus pôde fazer-Se
homem no nosso meio e tal permanece para sempre”. (Idem)
A Mensagem de Fátima, pois, apresenta-nos um feixe de relações, a partir de Maria com a
Trindade, pelo apelo à conversão pessoal, à oração, à meditação do rosário, ao sacrifício, à
reparação solidária, aos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, à prática das virtudes da fé,
esperança e caridade. Portanto, a partir da nossa comunhão com a Igreja, inclusive com o
Papa, para o mundo em conflito e, ainda hoje, carente de paz integral, fruto da justiça.